Quem sou eu
Simone Scherer, esse é meu nome, um lindo nome, sou completamente apaixonada por ele. Tenho 25 anos, nasci no interior de Palmeira das Missões, tive uma infância muito feliz, subi em muitas árvores, cuidei de muitos animais( lembrei de cada um dos que li no conto da Ilha Desconhecida), já fiz muito bolinho de barro, brinquei com boneca de milho verde, carrinho de sabugo de milho, budoque, perna de pau e muito mais. Com 5 anos estava alfabetizada, na 1ª série do 1º grau, mas como não podia cursar a 2ª, fiz mais um ano de 1ªsérie, foi um pouco chato, mas valeu, brinquei pra caramba. Meus pais sempre passaram por muitas dificuldades financeiras, mas o estudo das filhas sempre esteve em primeiríssimo lugar. Tenho mais duas irmãs, a mais velha também é professora e a mais nova é infermeira.
Vim morar em Nova Hartz no dia 12-08-1992, quando cursava a 6º série, tinha 11 anos e gostei muito da cidade, era pequena, parecia do interior, simples, bacana, mas com muito mais oportunidades, já que chegamos quando havia grande oferta de emprego para meus pais. Continuei estudando bastante e desde os 13 anos trabalhei em atelier de calçado para ajudar meus pais. Aprendi a ser responsável por tudo o que fazia e ganhava, foi muito bom pro meu crescimento pessoal. Sempre que passava 4 horas trancada numa salinha sentindo o cheiro horrível da cola do sapato, me imaginava fazendo milhões de coisas, menos sapato. Lembro, como se fosse hoje, das inúmeras vezes que chorei no banheiro, as vezes de raiva, outras de cansaço mesmo e algumas de indignação, mas jamais desisti, pois sabia que precisava do dinheiro no final do mês. Essa luta continuou, aos 14 anos ingressei no Magistério no Estadual em Sapiranga, mas saí no 2º ano e voltai pro Evira Jost, escola estadual de Nova Hartz, onde concluí o Segundo Grau. Precisei parar com o Magistério por falta de grana, novamente fui trabalhar, só que desta vez, o dia todo, numa empresa grande, com carteira assinada, mas com apenas 15 anos. Foram 2 anos, 2 meses e 6 dias de tortura, o cheiro, a carga horária, o ambiente trancafiado, a angústis de não conseguir fazer algumas coisas devido ao meu tamanho e força, mas como sempre, não desisti. Durante esse tempo, tive miningite aos 16, a enxaqueca me pegou aos 17 e a vontade de desistir chegou várias vezes. Me considero muito forte, pois as barreiras que quebrei eram fortes e persistentes, mas não tanto quanto eu fui.
Em 1998, em fevereiro, já formada no 2º grau, ingressei no Santa Teresinha de Taquara para fazer adaptação ao magistério, foram 18 meses maravilhosos. Ainda em abril de 98 comecei a dar aula para o EJA, tinha 17 anos, era a mais nova da sala, já que os alunos eram todos adultos. Confesso que foram os 2 melhores anos da minha carreira no Magistério. Desde então, me sentia como o homem que pediu o barco, faltava descobrir uma ilha, me descobrir. Fiz vários cursos, montei um grupo de danças na escola, apresentamos várias vezes, ingressei na Ulbra em 1999, com 18 anos, cursando Letras, tranquei quando engravidei aos 19. Retornei em 2003 na Feevale, cursando Educação Física. Tranquei novamente para poder Construir minha casa, que é linda e simples, mas alegre e cheia de vida, de sonhas e de desejos.
Quando lembro da minha infância, não tem como não me ver dando aulinhas para as bonecas de milho ou para minhas amiguinhas, até mesmo para minha irmã mais nova, esse desejo sempre fez parte de mim, minha dinda era professora, minhas tias, tias-avós, primas e minha irmã que sempre me apoiou e que não me deixou desistir desse sonho.
Casei aos 19 anos, dava aula 20 horas em Nova Hartz, morava em São Leopoldo, mas me separei aos 22 e voltei para NHz, onde desde então, trabalho 40 horas semanais, com 2 concursos, encarando os desafios diários de trabalhar e educar minha linda filha Natália. Aos 23 casei novamente, constituí uma nova e feliz família, pois nos amamos, nos respeitamos e nos ajudamos muito para que ver nossos sonhos realizados.
Hoje ser professora é uma bênção, sei que ralei muito e mereço toda a gratificação que a profissão me proporciona. Cada sorriso, cada gesto de carinho dos meus alunos já faz valer o esforço contínuo e a busca permanente que faço rumo a uma melhor atuação como professora. Estar na Ufrgs é o maior e melhor passo que dei profissionalmente e tenho certeza que o crescimento pessoal não ficará para trás.
Cada novo dia, quando acordo às 5h45min, tenho a chance de recomeçar e de traçar um novo rumo para minha carreira e para meus alunos. Estar cursando pedagogia já é estar desafiando a comodidade e ir em busca de respostas para todas as dúvidas do dia dia em sala de aula, sejam elas de âmbito pessoal(encontrar-me comigo mesma)ou profissional(será que a forma como conduzo minha prática está sendo suficiente e satisfatória para meus alunos?).
Meu maior desejo como professora é ter escolas informatizadas, salas de recurso a nível de literatura, jogos, materiais didáticos e pedagógicos, bem como atendimento aos alunos com psicólogos e fonoaudiólogos, essa com certeza seria a escola dos meus sonhos. Mesmo sabendo que nos últimos 8 anos de sala de aula não cheguei nem perto disso, continuo com esperança(tanto quanto a mulher que limpava, que não queria deixar o homem que pediu o barco desistir de achar a Ilha Desconhecida).
O conto de Saramago me fez voltar no tempo e sentir sensações já quase intocáveis, pois senti cheiros, alegrias e tristezas ao terminar de ler, já que um filme bem grande rodou ma minha memória. Se pudesse abraçá-lo e dizer obrigado por esta sensação, com certeza o faria.
Mesmo lembrando de tantas coisas boas, continua o receio de não estar fazendo a coisa certa em relação ao processo de ensino-aprendizagem dos meus alunos, já que a cada dia enfrentamos novos desafios, como esse que encarei em 21-09-2006, ao receber um aluno com baixa visão, totalmente cego de um olho e pouca porcentagem no outro. Estamos fazendo curso de Braille, eu o aluno e a mãe dele. Tudo novo, mas muito interessante, só que ao mesmo tempo, a dúvida: Será que conseguirei suprir as necessidades dessa criança? De uma coisa estou certa, vou dar o melhor de mim e farei todo o possível para que isso aconteça.
Essa é parte da minha história, da minha vida e do que realmente me marcou. Sei que muitas pedras existem no caminho, mas sei também que muitas ainda irei chutá-las para bem longe, como fiz até hoje. Sou uma professora apaixonada pelo que faço, tanto com meus baixinhos de pré-escola quanto com os de 1ª e 2ª série que atendo na Educação Física, durante este semestre.
Serei sempre essa menina-mulher que corre atrás dos seus sonhos e não desiste jamais, assim como o homem que pediu um barco e a mulher que limpava não desistiram de rumar ao desconhecido, ou seja, rumar ao encontro do seu eu e do infinito mundo de possibilidades que este encontro oferece e sempre irá oferecer. Toda busca vale a pena quando desejamos intensamente buscar, seja algo conhecido ou desconhecido.
Na pureza das águas, na leveza dos ventos, no barulho do mar e nos encantos da natureza levo minha vida com uma grande certeza: o que sonho, desejo e faço com amor, respeito e dedicação, faz de mim uma mulher/professora pura e íntegra. Si.
3 Comments:
Simone!
Achei linda a tua história de vida.
Parabéns!! Que Deus te abençoe!
Continue sempre com essa garra e determinação.
Um grande abraço
Cristiane
Simoni o teu blog está muito bacana, esta mensagem que colocou é maravilhosa e combina mesmo com você...Continue com esta força e esse amor pela vida..você é uma vencedora.
Abraços....
Si!
Nossa, que história de vida, hein?
Te admiro mais do que admirava...
Parabéns pelo blog...pelos trabalhos...menina aplicada, hein?
Continue com essa força, menina!!!
Beijos da Ana Mattes(Cris)
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